Por muito tempo busquei a causa das minhas dores e sofrimento em consultórios médicos. Foram consultas, exames, mudança de médicos e especialidades. No entanto, nenhum diagnóstico foi encontrado. Parece que eu insistia em encontrar uma causa orgânica, numa tentativa de sucumbir àquilo que realmente me afligia e que eu não assumia. Essa situação é comum a muitas pessoas que vivenciam dores psíquicas, mas relutam em assumir a responsabilidade sobre elas.
As dores psíquicas
As dores psíquicas, ou seja, aquelas que afetam o bem-estar emocional e mental, são uma realidade para muitos indivíduos. No entanto, é comum que essas dores sejam ignoradas, negligenciadas ou mesmo atribuídas a fatores externos, como problemas sociais, financeiros ou relacionais. Essa busca por desculpas e justificativas para não assumir a responsabilidade sobre o próprio sofrimento pode ser um obstáculo para o crescimento pessoal e a busca de soluções efetivas.
A psicóloga Ana Beatriz Barbosa Silva aborda esse tema em seu livro “Mentes Inquietas: TDAH, Desatenção, Hiperatividade e Impulsividade”. Ela ressalta a importância de reconhecer e assumir as dores psíquicas, especialmente aquelas relacionadas a transtornos mentais como o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Segundo a autora, é fundamental que o indivíduo compreenda que as dificuldades emocionais e comportamentais não são apenas causadas por fatores externos, mas também por questões internas que precisam ser enfrentadas.
Outro autor relevante nesse contexto é o psicanalista Sigmund Freud, que em sua obra “Além do Princípio do Prazer” aborda a existência de um sofrimento inerente à condição humana. Para Freud, o enfrentamento desse sofrimento exige coragem e ousadia para explorar os impasses subjetivos e sair da posição de vítima, assumindo a responsabilidade sobre a própria vida.
Além disso, o psicólogo Carl Gustav Jung, em seu livro “O Eu e o Inconsciente”, destaca a importância de entrar em contato com os conteúdos do inconsciente, incluindo as dores psíquicas, como forma de promover o crescimento e a individuação. Para Jung, negar ou reprimir essas dores pode levar a consequências negativas para o bem-estar psicológico.

O perigo da negligência
Negligenciar as dores psíquicas pode ter grandes custos psíquicos para o indivíduo. O sofrimento não reconhecido ou não assumido pode se manifestar de diversas formas, desde sintomas físicos como dores de cabeça, problemas gastrointestinais e insônia, até sintomas emocionais como ansiedade, depressão e baixa autoestima.
A psicossomatização é um fenômeno comum associado à não expressão adequada das dores psíquicas. Estudos científicos têm demonstrado a relação entre o estado emocional e o corpo físico. Pesquisadores como John E. Sarno, autor de “A Cura pela Dor”, e Gabor Maté, autor de “When the Body Says No: Exploring the Stress-Disease Connection”, têm explorado a ligação entre o estresse emocional e o surgimento de sintomas físicos, evidenciando a importância de abordar as dores psíquicas como parte integrante do cuidado com a saúde.
Assumindo a responsabilidade
Assumir a responsabilidade pelas dores psíquicas requer coragem e um olhar sincero para si mesmo. É um processo que envolve reconhecer as emoções e os padrões de pensamento que contribuem para o sofrimento, além de buscar apoio profissional, como terapia psicológica, para auxiliar nesse processo de autodescoberta e transformação.
Ao assumir a responsabilidade pelas dores psíquicas, o indivíduo abre espaço para a reflexão, o autoconhecimento e a busca de estratégias eficazes para lidar com o sofrimento. O tratamento adequado e o cuidado com o bem-estar emocional são essenciais para uma vida mais saudável e plena.
Conclusão
Em suma, as dores psíquicas são uma realidade para muitas pessoas, e ignorá-las ou atribuí-las unicamente a fatores externos pode ter consequências negativas para o bem-estar emocional e mental. Assumir a responsabilidade por essas dores é um passo importante em direção à cura e ao crescimento pessoal. É fundamental buscar o apoio necessário, como terapia psicológica, e explorar as causas subjacentes para lidar de forma eficaz com o sofrimento emocional. A coragem de enfrentar essas dores é o primeiro passo para uma vida mais plena e satisfatória.