A busca pela força e pela superação é uma característica bastante presente na sociedade contemporânea. Muitas vezes, somos incentivados a negar nossos sentimentos, a esconder nossas fraquezas e a manter uma fachada de fortaleza perante os desafios e dificuldades que enfrentamos. No entanto, essa crença do “ser forte” pode contribuir para o mal-estar emocional e psicológico, pois quando negamos o que nos aflige, aprisionamos a dor e dificultamos a possibilidade de mudança.
A negação dos sentimentos
A negação dos sentimentos e das experiências dolorosas é uma estratégia defensiva comum. Acreditamos erroneamente que ao ignorar ou reprimir aquilo que nos causa sofrimento estaremos protegidos e seremos capazes de lidar melhor com as adversidades da vida. No entanto, essa negação acaba por gerar um acúmulo de emoções reprimidas, que se manifestam de maneiras disfuncionais em nossa psique.
Nesse contexto, a psicanálise tem um papel importante a desempenhar. Fazer análise significa não calar o sofrimento, mas, pelo contrário, dar voz a ele. É um processo de investigação profundo que busca compreender as causas subjacentes aos sintomas psíquicos que nos causam mal-estar. É um convite a olhar para nossas dores e angústias, enfrentá-las e compreender como elas moldam nossa história e nossas escolhas.
Acolhendo as fragilidades
Diversos autores têm discutido essa questão e apontado para a importância de reconhecer e acolher nossas fragilidades emocionais. Um deles é o psicanalista francês Jacques Lacan, que enfatiza a necessidade de atravessar o mal-estar e reconhecer o real em nossas vidas. Segundo Lacan, negar o sofrimento e a fragilidade é uma ilusão que nos afasta da possibilidade de uma vida plena e autêntica.
Outro autor relevante nessa discussão é o psicólogo alemão Carl Gustav Jung. Para Jung, a busca pela integração e pela totalidade psíquica é fundamental para o desenvolvimento saudável do indivíduo. Negar aspectos sombrios e dolorosos de nossa psique apenas fortalece essas energias negativas e as mantém atuantes em nosso inconsciente. Ao enfrentar e integrar essas sombras, abrimos caminho para a cura e o crescimento pessoal.
Aceitando as limitações
Além disso, a psicanalista brasileira Maria Rita Kehl destaca a importância de reconhecermos nossas limitações e vulnerabilidades para nos reconciliarmos com nossa própria história. Em seu livro “O Tempo e o Cão: A Atualidade das Depressões”, Kehl aborda a depressão como um sintoma contemporâneo ligado à pressão para sermos sempre fortes e bem-sucedidos. Ela ressalta que a negação do sofrimento e a busca incessante por uma imagem de perfeição nos aprisionam em um ciclo de mal-estar e insatisfação.
A análise nos permite, então, mover-nos além do mero disfarce da força. Ela nos convida a reconhecer, acolher e compreender nossas dores, para que possamos transformá-las e construir caminhos mais saudáveis e autênticos. Ao investigar as origens de nossos sofrimentos, podemos identificar padrões disfuncionais e crenças limitantes que nos impedem de alcançar uma vida plena e satisfatória.
A construção desses caminhos menos árduos e a possibilidade de novas construções para antigos impasses dependem, em grande parte, do acolhimento de nossas emoções e do enfrentamento de nossas dores. Ao reconhecer e expressar nossos sentimentos, permitimos que eles sejam elaborados, transformados e integrados em nosso ser. Dessa forma, nos tornamos mais conscientes de nós mesmos e de nossas necessidades, e abrimos espaço para escolhas mais saudáveis e autênticas.
Conclusão
Portanto, a crença do “ser forte” na contemporaneidade pode contribuir para o mal-estar emocional e psicológico, ao negarmos aquilo que nos aflige e nos faz sofrer. A análise psicanalítica surge como um caminho para nos desvencilharmos desse aprisionamento emocional, permitindo-nos reconhecer, acolher e transformar nossas dores. Ao enfrentar nossos medos e fragilidades, construímos uma base sólida para o crescimento pessoal e a busca por uma vida mais autêntica e plena.